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Saturday, June 27, 2015

Friday, February 13, 2015

In meanwhile...

Nau Negra is still looking for a publisher. Anyone out there? In meanwhile, I try some brushes for next story. All of them are faces in profile, none of them has anything to do with the story.




Wednesday, April 09, 2014

Pigs in Space!


O Urso pergunta:

Na sua opinião, os retratos pintados pelo ex presidente americano George Bush revelam o seu lado humano, são obras artísticas que enriquecem a Humanidade e redimem-no dos milhares de pessoas que mandou para a morte, porque afinal a guerra é a guerra, o povo é que sempre as paga e, enfim, pelo menos em teoria estava do “nosso” lado e não apenas do lado da “família”?

Não sabe se a pintura é boa, mas acha que deve ser, afinal tem tinta, como a sua?

Espera ansiosamente pela anunciada exposição de pintura do senhor Vladimir, que também deve ser tão boa, ou mesmo melhor, ainda que possa nem ser pintada por ele, afinal muitos alegados grandes artistas têm assistentes, porque não os haveriam de ter os ditadores?

Acha que é uma injustiça que também não tenha assistentes, mas como pagá-los, uma vez que o Passos Coelho lhe cortou uns quantos ordenados, destroçando-lhe a carreira artística?

É de opinião que o verdadeiro artista, o artista sério, tem que cumprir a sua obrigação e ter emprego também sério e que, se o artista não ganha ordenado sério é porque não precisa disso para viver a sério?

Acredita que o artista é uma espécie de eremita e é imune à fome e à guerra?

Acredita que o artista rico é rico porque aldrabou melhor do que o artista pobre? Ou é uma mente liberal e pensa, apenas, que ele é rico por decreto da Providência e pela sua superior ausência de escrúpulos?

Pensa que ser artista não vem com o trabalho, com a paixão, com a investigação, com a aplicação dos dias e das noites, três dias por noite e três noites por dia, mas apenas com a sua convicção?

Porque a arte goza com a arte, acha que arte é respirar por uma palhinha sem fazer barulho?

Sente, mais do que pensa, que figura pública ou aparentado já é um génio, ainda antes de começar a manifestar a sua veia artística, cuja por certo vai ser genialmente apreciada?

Não percebe lá muito bem os artistas do regime, mas tem muito orgulho neles, porque são nossos, como a sardinha marroquina?

Se pensa assim, ou se pensa que um curso pode exercer sobre si o grande efeito transformador que o levará de sapo a artista, se pensa que a arte, seja ela qual fôr, se pode comprar por pacotes de normas, se acha que a irreverência e o espírito inovador se cultivam aquecendo o lugar, pelos vistos chegou ao sítio certo. Sente-se e espere pela pancada.

Tuesday, April 08, 2014

PESSOARDA. Procrastinação hereditária

A propósito da questão levantada na Pessoarda de outubro passado (que podem ler no Hard Line), veja-se o curioso artigo do Science Daily sobre procrastinação e impulsividade. Pensavam que eu estava a brincar?

Artistas Emergentes


O Urso pergunta: é daqueles que pensam que a febre de revelações artísticas entre os políticos mostra o seu lado humano, mesmo depois de contados os mortos?

Tuesday, October 22, 2013

Pessoarda


Pessoardinha (figura simbólica).

1) Um Pessoa empunhando uma sardinha. O Pessoa simboliza o génio literário sem prejuizo das funções normais de escriturário, muito apreciadas pela população urbana. A sardinha simboliza uma das mais antigas exportações nacionais de sucesso.

2) Um Pessoa com uma sarda na mão. Há quem defenda que o peixe representado é, na realidade, uma sarda. Sendo assim, esta figura simbólica mais ousada deveria chamar-se Pessoarda.

Em cima: um Pessoa brandindo uma sardinha, ou sarda, num campo de Outonos. O campo outonal representa o que não é quente nem frio, nem bom nem mau clima, o que não anda nem desanda, o que é de brandos costumes, de brisas febris e desalentos constantes.

XXX

É preciso passar mais do que umas férias fora de Portugal, até mais do que uns meses, para se sentir bem como o relógio não anda ao mesmo ritmo para toda a gente. Depois de quase sete anos fora, a sensação, ao pôr os pés pela primeira vez no Rossio numa tarde ensolarada de Setembro, foi a de ter desembarcado numa atmosfera de geleia de limão, dentro da qual as pessoas pareciam movimentar-se em câmara lenta, indiferentes a um mundo onde se praticam outras velocidades, particularmente as senhoras idosas, deslocando-se com um muito próprio andar pendular, cujo dá a ilusão de andar em frente andando de lado. Ou vice-versa.

Três anos volvidos a sensação dissipou-se, noto apenas que há muita gente que se movimenta devagar e cabisbaixa, arrastando o esmagador peso de ter que se arrastar a si própria, e o andar pendular não passa já de uma curiosidade que só algumas senhoras de idade praticam. Adaptei-me, acertei o relógio. Direi então que, tal como o resto dos portugueses, sou um biolento.

Resumindo o que se conseguiu fazer em Portugal entre dois dezanoves de Setembro, de 2010 a 2013. Desta última data em diante, a avaliação será feita no ano que vem. Estes anos passaram de movimento rápido a movimento lento e a movimento suspenso. Sobretudo, foi uma experiência emocionante. Nos primeiros dois anos fez-se um filme de animação, acabado dentro do prazo, mas já com condições limitadas pelo anúncio de cortes. O produtor foi obrigado a encerrar o estúdio. A partir daí entrei em modo de sem-rede, qualquer tipo de rede. O país aprofundou o estado de delírio depressivo em que vinha vivendo. Recebi dois prémios. Simbólicos, assim como o Pessoardinha. Publicaram-se dois livros, por pequenos editores. Com rendimentos também simbólicos. A parte emocionante foi sobreviver, dia a dia, hora a hora, ao último ano.

Apesar de acertado o relógio biológico, fica ainda uma inquietante incompreensão por fenómenos a ele ligados. Como o manifesto desalento com que muita gente acolhe qualquer esboço de acção concreta e também o hábito generalizado de simular estar a resolver um problema sem na realidade meter mãos à obra, com todos os teatros e fogos de artifício que isso envolve. O que mais surpreende é as pessoas parecerem pensar que estáo mesmo a resolver qualquer coisa. Logo desde os primeiros dias em que chegámos a Portugal, ouvimos coisas espantosas.

Ouvimos, incrédulos, longas tiradas de prosa quimérica sobre as verdades da vida, ainda que em contradição com o que está à vista, com a desesperada certeza de que tudo o que cá está, está no sítio certo e se outros o têm fomos nós que o levámos para lá, e que não há no mundo outro povo que saiba como comer bacalhau.

Ouvimos muita gente dizer que é normal encontrarem-se portas fechadas, por considerarem que o próprio país fechou. Assim, naturalmente, devagar...

Ouvimos o silêncio oco do mau pagador, tão antigo e tão enraizado neste país, que já só se ouve com o nariz.

Ouvimos sapatear em vários estilos de passo lateral lento. Este consiste numa manobra de diversão em que vários passos lentos, muito visíveis, simulados para o lado, pretendem dar a ilusão de um passo enérgico em frente, sempre que necessária a execução de uma tarefa concreta.

Ouvimos, numa das primeiras de muitas manhãs passadas em balcões da segurança social e das finanças, o grito triunfal de uma funcionária atravessar uma sala cheia de gente, “Não há rede! Vamos todos almoçar!” Se ainda não tínhamos percebido onde estávamos, ficámos a saber.

Assistimos a várias tentativas baixas para nos sacarem dinheiro. Os quadros que trouxemos da Croácia foram alvos perfeitos, logo desde a alfândega. A parte mais cómica foi ver uma funcionária apontando freneticamente para o texto da declaração do ministério da cultura croata, tentando fazê-lo passar por um texto em inglês, numa tradução imaginária de sua conveniência.

Por outro lado, também tivemos a grata surpresa de ver a polícia resolver-nos um caso quando já quase o tínhamos esquecido, o que, depois de tudo isto, deveras nos espantou.

Coincidindo com o nosso regresso, caiu com estrondo a nova cara da sempre choramingada crise. Um quarto de século a pôr remendos numa máscara de prosperidade emprestada, eis o resultado.

Ouvimos, então, repetida vezes sem conta e com ares de consensual sabedoria, a mais aviltante desculpa que alguém poderia inventar, a de que o português é bom, só que é mal dirigido. Aparentemente a questão estará entre o conceito de governante e o conceito de gestor, mas isso é irrelevante porque os milagres não são do domínio nem de uns, nem de outros. Depois, o português não precisa de ser bem dirigido para ser bom. Precisa de estar inserido em todo um ambiente mais funcional, ou seja, é preciso não um bom gestor mas sim um ambiente inteiro num longe daqui inteiro. Depois, governantes e gestores, para ganharem o seu têm que tirar do teu, devolvendo-te qualquer coisa, de preferência que tu não tivesses de outro modo, o que significa que, em determinado ponto do processo em full swing, dêem-lhe a volta que lhe derem, a única coisa certa é que estão lá para te tirarem tudo o que puderem tirar, em troca de produtos viciados e, de preferência, viciantes. E isto dificilmente ajudará à solução do problema. E, por fim, é uma desculpa manhosa, abdicar da dignidade de ser pessoa responsável para não ter de assumir que o problema poderá estar entre as suas próprias mãos.

Talvez a razão possa estar escondida atrás de um verbo de sonoridades estilhaçantes:

pro.cras.ti.nar
(latim procrastino, -are, deixar para amanhã)
1) Deixar para depois, adiar, retardar.
2) Usar de delongas.





Como se chega lá? Para tentar compreender como se forma um país que desde há muito funciona parando, comecemos, então, pelo mais evidente, o biolento.


É histórico. O português é biolento. Chamam-lhe alguns os brandos costumes, se bem que isso não englobe a totalidade do fenómeno. Defendem alguns que por causa do clima. Talvez. Da brisa atlântica. Talvez. Do isolamento. Talvez. Seja qual for a razão, ou razões, é algo que está por aí. Pode mesmo ter desempenhado um papel importante na independência deste país eternamente outonal. É que isto pega-se e, quando se agarra, não há maneira de lhe dar a volta.

Imaginem-se hostes castelhanas numa hipotética invasão, batidas pelos maus ventos que as empurravam de Espanha, a serem apanhadas, a meio caminho de Lisboa, por uma estranha sensação de torpor. Presas de desânimo, que mais lhes restava do que arrastarem-se pelos campos e lezírias encharcadas, cabisbaixas e modorrentas, transformadas nos seus próprios verdugos, até ao ponto em que reconheciam a inutilidade de sofrer tão desgastante ventura, em vez de estarem a celebrar a vida com tapas, pinchos e viño fino. Ainda que chegassem até às muralhas da cidade, um ataque de peste e a ameaça de um desembarque de mercenários ingleses soaria a retirada definitiva.

Mas, teriam os portugueses medievais já esse feitio de lidar com o tempo? Estará mesmo o uso do tempo agarrado aos efeitos do clima? Fazendo fé de forais e notícias de torto, suspeita-se que a lei fosse muito relutante e os desfechos brutais. Imagino que, descontando as alturas em que era violento e brutal, o português era não só biolento, como também já seria um protocolento em botão. Os dois parecem ser inseparáveis, hoje em dia. Provavelmente manobrava por entre os meandros de um código de atitudes e fidelidades já herdado dos romanos. Daí viria a desenvolver o gosto por jogos de mesuras, alianças e rituais, em função das suas conveniências. Quando não estivesse a rachar a cabeça a alguém, claro.

Nas zonas de influência islâmica o protocolento seria mais ao estilo salamalequento. Juntos poderão ter formado hábitos de fronteira, hábitos de compadrio alargado regido por um cauteloso sistema de comportas rituais e procrastinadoras, um pouco como cofres de abertura retardada. Não me parece que o papel do clima possa ter sido predominante, neste processo.

Dir-me-ão que, mesmo sendo lento e mesureiro, o exemplo da tão cantada epopeia das descobertas viria mostrar quão dinâmico e decidido o português soube ser, no momento mais criativo da sua história. Em parte é verdade, mas uma parte bastante mais reduzida do que se quer fazer crer. Na realidade, a aventura marítima até viria a firmar a tendência existente. Senão, vejamos.

Comecemos pela realeza. O primeiro rei da dinastia que iniciou a dita epopeia teve vários filhos, meio ingleses, teoricamente meio-biorápidos. Contudo, segundo o cronista, ele próprio era um conhecido biolento. Por seu lado, o Infante, que tinha tido até aí uma vida recheada de emoções e intrigas, em que vira um irmão abandonado numa vala comum pelo sobrinho e um outro abandonado numa masmorra marroquina pela família, ficou mundialmente conhecido por se ter reformado à beira-mar a presidir a uma marcha lenta de descobrinhação. Três escravos aqui, uma família inteira acolá, dizia o Infante contando pelos dedos, vinte mais adiante, um par de rosas, ainda descobriremos ouro, vão ver, estamos quase lá, acreditem em mim.

Entretanto, morreu. O sobrinho, que era um rei daqueles de sair nas capas das revistas, todo tufado nos ombros enormes e nos sapatos descomunais, logo empandeirou o negócio, tentou uma aventura sebastianista no norte de África donde foi resgatado in extremis, entre outras desastrosas aventuras militares, que quase o iam levando em desgosto para a Terra Santa. Temos aqui um rei decidido e despachado, mas que não fez rigorosamente nada de útil.

Enquanto o rei cavalgava à sua custa e arruinava o país, o povo ia-se desenrascando. Biolentamente e procrastinando o mais possível, pelo seguro, pois enquanto cá está deste lado, é meu. Ainda os hábitos fronteiriços. O clima, entretanto, tinha mudado bastante, donde se deduz que pouca ou nenhuma importância teve para o caso, pois os hábitos transmitiram-se, sobreviveram e refinaram.

Abre-se aqui um curto intervalo, possibilitado pelo alargamento dos horizontes marítimos. Vamos, por fim, ver algumas figuras realmente decididas e despachadas. O novo rei, como decerto sabem, pois é episódio que estremece o coração de qualquer plebeu, despachou algumas cabeças de famílias nobres, inclusivé da sua própria família e por sua própria mão, e não só ressuscitou a empresa de descobrinhação do tio-avô, como lhe deu novos contornos e a encaminhou para uma coisa séria. Um dos jovens cavaleiros da sua casa seria mais tarde um dos mais dinâmicos e originais governadores das Índias.

Muitos outros houve e, claro está, também eles morreram. Heróis rápidos num autêntico filme de acção que acabava espalhado lentamente em praias tropicais, atascado em sangue e em febres...

... afogado no familiar nepotismo da administração...

... ou no fundo do mar.

O povo emigrava às carradas, morria em camadas e desenrascava-se ao ritmo índico. A distância da terra-mãe criava um maior à-vontade em termos de normas sociais, democratizava-se o uso de prerrogativas. Em suma, o português descobria um biolento exótico e ganhava uma nova paixão pelo abuso de códigos sociais.

O século seguinte viu os portugueses da Índia zangarem-se amiúde uns com os outros, por vezes de modo muito violento, intrigarem e puxarem-se mutuamente o tapete, por vezes usando apenas orelhas moucas e a já nobre arte da procrastinação.

Andavam lentamente pela rua, para se darem ao respeito, hábito que perduraria por vários séculos enraizado na imaginação da nobreza. Perguntar-me-ão, como pode alguém dar-se ao respeito andando como uma galinha, responder-lhes-ei, com uma espada à cinta e umas dezenas de capangas armados atrás. Sendo invejosos – pois a vaidade e a inveja têm um papel muito importante nestes assuntos – até à mais baixa parvoíce, tinham criados que lhes traziam as cadeiras até à igreja e que se batiam entre si pelos lugares a que os senhores achavam ter direito. Séculos de escravatura terão também deixado a sua marca nestes hábitos.

Qualquer problema ou mal-entendido de monta em Macau ou na Índia implicava uma viagem a Lisboa ou, mais tarde, a Madrid, sem a qual nada se resolvia, mas com a qual se poderiam limpar milagrosamente vários tipos de crimes. Os grandes iam a Madrid, os pequenos iam onde calhava, o que era preciso era cumprir o protocolar purgatório e olear o compadrio.

A partir daqui – crianças, acabou-se o intervalo – instalou-se definitivamente o já conhecido biolento e protocolento português, cauteloso procrastinador, que nenhuma guerra, austeridade ou regime ainda desalojou.

Foi também esta a época em que a Europa viu o nascimento de verdadeiras cortes de escribas e notários, com funções protegidas e uma linguagem própria. Estava inaugurada a época do funcionalismo de carreira e lançadas as sementes de uma estrutura frequentemente disfuncional que ocupa hoje boa parte da população do mundo, sementes essas que cairam muito bem nesta terra de mesuras e compadrios, de cerimónias e rituais.

“Cuidado com o que diz. As palavras hoje, amanhã, depois de amanhã e para a semana, podem representar um insulto aos papéis que estão em lista de espera.” Podem escrevê-lo num azulejo e distribuí-lo nas repartições.

Um exemplo de como as novas tendências burocráticas se vieram engavinhar nos velhos hábitos de fronteira e chegaram aos nossos dias. Leva-nos pelo menos um mês a interpretar um exame médico feito nos serviços de saúde públicos. Noutros países, ainda que em semelhante situação económica, o mesmo exame está pronto e visto pelo médico no próprio dia. Como é que eles dominaram a técnica de fazer tudo num dia? Ter-se-ão esquecido que há um cerimonial a cumprir, nestas coisas do conhecimento? Quanto a nós, devemos ter o serviço de saúde mais cerimonioso do mundo. Como dizia um rei, morrer sim, mas devagar. Está aí tudo resumido.

Mas, adiantamo-nos. Assim, a nossa história andou lentamente pelo século seguinte, apenas abalada pelo terramoto. Para o que aqui nos interessa, teremos que saltar as invasões francesas e as guerras civis e olhar para a magnífica paisagem que se nos apresenta logo a seguir. Oportunistas e carreiristas de múltiplas espécies polvilham o cenário, vestidos de reposteiro, com espadim e pasta nos corredores dos ministérios. Pimpões há que não só acumulam comendas, como são várias vezes marqueses, um pouco condes disto, um pouco condes daquilo e ainda dão uma de duques na missa de domingo.

Idos os fatos de reposteiro e espadim, que ainda passaram pela república, à excepção dos títulos nobiliárquicos, sobram-nos hoje os doutores de uma certa geração muito dada a atalhos, que ainda dão escândalo de vez em quando, doutores que não sabem para que lado fica a China, apenas sabem do seu oriente. Mas até isso há-de passar, afogado numa maré de emigração de cursos de design gráfico e humanidades.

Os amantes do cerimonial e os ritualistas, os colecionistas e os catalogadores, contudo terão sempre lugar. Entre eles estarão aqueles que encaram o ritual com bonomia, a boa cara da cerimónia, e os colecionistas dedicados, que colocam as coisas sempre no mesmo sítio mas também as mantêm vivas, porém também os vaidosos e os invejosos de sempre, os ciumentos e os intriguistas, os simplesmente inábeis, os atrapalhadores de serviço para quem as voltas do segredo são um instrumento e um vício. Estes ainda cá estarão, quando os emigrantes regressarem, como uma plantação de arbustos de espinhos. E perguntar-lhes-ão os arbustos “Não há lá gente séria como nós, lá donde viestes?” Ao que os que regressam lhes responderão, rindo, “Sim, mas nunca vimos tantos protocolentos juntos, a atrapalhar no mesmo sítio.” E que faz um protocolento, para além de atrapalhar?

Não é assim que se faz, diz ele. Esta é uma das frases que pode identificar um protocolento de carreira, seja ele de que quadrante for, sonhando com uma gloriosa reforma ou almejando mesmo ter, um dia, um busto no canto de um jardim ou, ao menos, o nome numa placa que não seja de cemitério.

Não é assim que se faz, sendo dita com cuidado e em surdina, acarinhada como uma peça de veludo, mostrada como uma arma afiada ou um tesouro, é a frase reveladora daquele que conhece e respeita todos os meandros do consuetudinário protocolo, certo de, através da sábia fórmula, lá ir trilhando os caminhos da fama local e da glória bairrista. Ser protocolento é como pertencer a uma grande sociedade discreta de portugueses cuja finalidade não é melhorar as coisas existentes e inventar novas, mas sim ganhar o seu e ser respeitado pelos pares e admirado pelos vizinhos.

Apesar de tudo, este sistema funciona. É sucesso garantido e estabiliza o capital, pela repetição de uma fórmula, testada em vários outonos. Normalmente cria híbridos do gosto popular, ele mesmo herdeiro de outros híbridos, com uma vaga tendência internacional recente. Sendo o trabalho bem feito, pode resultar mesmo algum efeito mais profundo do que uma vaga imitação em série. Sendo o trabalho mal feito é um grande empecilho, pois o gosto do povo raramente os distingue. Em qualquer dos casos é, também, uma grande contribuição para o assoreamento das ideias.

Contas por baixo, nos meus tempos de liceu passei por não menos de seis, até hoje vivi em pelo menos cinco localidades portuguesas diferentes e três estrangeiras e, por pouco tempo que lá vivesse, nunca fui turista. As exposições dos meus trabalhos ou se concentram num período, ou parecem colectivas. Cada nova aventura não é entusiasmante sem um novo estilo de desenho, um novo tipo de escrita ou, no mínimo, um arranjo gráfico diferente. Cada assunto só é interessante enquanto não completamente dominado. O texto, que foi tantas vezes caluniado quando da publicação semanal, não é fácil de seguir. Já se vê que não me dou bem com o sistema atrás descrito. Também não me é simpático quando me atravanca o caminho. Colarem-me às costas trabalhos passados, sugerirem imitar-me a mim próprio, também é casca de caracol que dispenso.


Lamento se pareço ingrato, mas alguns dos leitores de banda desenhada que podemos enquadrar no campo dos colecionistas revelam, quanto a mim, um impenetrável imobilismo ao escolher apenas os meus trabalhos mais antigos, como referência. São pessoas de gostos agarrados àquilo que consideram ser sério, em que apreciação estética é sinónimo de catalogação correcta. Não é solução tentar mostrar-lhes, a cada passo, que por cada um desses há outro melhor, mais recente e com vida mais instável, algumas vezes interrompido pelo próprio editor. Por outro lado, o mundo português dos críticos de banda desenhada é um mundo de imaginação. Geralmente pouco dados à investigação no terreno, conseguem dar novos títulos às obras que comentam, elaboram longos textos embrulhados em palavras formadas por aglutinação germânica, descobrem ligações a outros autores que o próprio autor desconhece, discutem entre si técnicas e influências que o autor não sabia possuir, enfim, um exótico fermento de invenção. Creio que, se estivesse no seu lugar, me divertiria bastante. Porque não aceitá-los, tanto críticos como colecionistas,  tal como são? Neste nosso mundo um pouco quântico, águas passadas ainda movem moinhos, contudo águas paradas não. A minha preocupação é, agora, desassorear a barra.

Monday, November 05, 2012

A VALSINHA DAS BIFANAS

Eles correm a comparar bifanas, de associação em associação, à saída do Amadora BD, umas são as melhores bifanas do mundo, outras mais modestas as melhores do país, outras apenas as melhores e está o assunto arrumado. Eles comem rigorosamente tudo da bifana, cantando loas à carne, ao pão e ao alho a cada dentada, em frases curtas e gordas. À antepenúltima dentada já estão a mastigar novo pedido e a última migalha sai acompanhada de um sonoro quero mais uma. E afinal, uma das bifanas é um prego.

Eu não sou muito de medalhística, isto de medalhas faz-me sempre lembrar a valsinha*, e para mais não gostei nada de ver o livro Sangue Violeta, apesar dos trinta anos das histórias que lá estão, nomeado para o prémio Clássicos da 9º Arte. Faz-me sentir velho. Isso e a dificuldade em equilibrar a caixa aberta com a placa (pesada!) numa mão e o microfone na outra.
Ora eu penso que o papel dos festivais de banda desenhada não é fazer com que os autores se sintam velhos ou jovens medalhados, preferidos ou preteridos, mas sim criar condições para que os autores possam desenvolver a sua arte. O que eu tenho visto nos últimos vinte anos é que os festivais têm criado condições a muita gente e apenas excecionalmente a um ou outro autor. Os ursos, afinal as estrelas da feira, como já muita gente reparou, apesar da questão lhes ser basicamente indiferente pois têm mais com que se preocupar, têm sido sempre os últimos a comer. Para mais, os últimos vinte e tais anos moldaram uma situação editorial autofágica e estéril para a criatividade que, essa, rebenta por todos os lados mas que se vê assim condenada à marginalidade das pequenas edições. Enquanto o urso aguentar.

Mas como a atribuição de um prémio tem sempre alguma graça (faz sempre algum sentido, seja lá ele qual fôr), juntei alguns para a fotografia. Estão lá os dois deste ano, o troféu especial do júri Central Comics e o Clássicos da 9º Arte.

Agora, vamos à bifana! Música!

* A Valsinha das Medalhas, Rui Veloso.

Monday, October 01, 2012

LOST HEROES

O ano de 2009 viu projetos começados, retomados várias vezes e em versões diferentes, nos anos seguintes, mas nunca acabados. 2010 foi o ano apostado em preparar a mudança, que terminou no regresso a Portugal para a realização do filme Fado na Noite. 2011 foi o do enterro no lodaçal em que o país se transformou. Apesar disso o filme foi acabado em 2012, dentro do prazo. Mas o lodaçal estende-se a perder de vista e todo este período a patinhar na lama não foi especialmente criativo.

Um dos projetos iniciados em 2009 tem ainda hoje como título provisório O Arrulhar das Fúrias, um dos vários que lhe fui dando, e cresceu um pouco, engordou o argumento, ao longo deste período. Acabou por tornar-se no princípio de uma coisa séria.
Mas, enquanto o argumento engordava eu ia-lhe arranjando companhia, personagens mais ou menos importantes para a história, como se ela não pudesse sobreviver sem um exoesqueleto de heróis, sempre com uma personagem feminina à cabeça. Podem ver-se algumas das figuras na amostra acima.

Estas figuras têm duas coisas em comum: uma, a história que pretendem dirigir, nas suas várias versões, e, duas, o facto de serem descartáveis. É um acontecimento muito comum, na vida, figuras que pretendem dirigir alguma coisa serem, na verdade, descartáveis.

Pois, a bem da história, eu descartei-as. Vou dar-lhes emprego, a algumas como figurantes, mas apenas isso.

Mas não vou largar a história. Com as Fúrias não se brinca!


Nota: apercebi-me, há pouco tempo, que há quem faça uma leitura rigorosamente literal do que é escrito aqui. Convém por isso assinalar que este texto não é uma lista exaustiva das minhas atividades destes anos, nem sequer dos acontecimentos ligados à banda desenhada (houve dois livros, um prémio, vários festivais etc.), se bem que o panorama tenha sido, no geral, duma grande pobreza. Convém, ainda, assinalar, a propósito desta minha última afirmação, que isto não significa que o que se fez tenha sido mal feito, mas sim que foi pouco, muito pouco, mesmo. Convém, ainda, assinalar, a propósito desta minha última afirmação, que ela se refere sobretudo a uma situação geral, a um conjunto de particulares e a uma conjuntura que nos abrange a todos, e não a nenhum particular em especial, ou ao próprio. Se me esqueci de algo, estou aberto a esclarecimentos.


Saturday, January 28, 2012

BOM de SENHO

Ainda um dia hei-de desenhar bem.
Mas, se tivesse passado os últimos trinta anos a desenhar a mesma coisa, certamente diria "ah! como eu sou bom de senho."

Wednesday, January 11, 2012

A VANTAGEM DO MARRECO

Quem inventa o instrumento assegura, afinal, o resultado, pois o instrumento condiciona o desempenho humano, cujo, através do uso e interpretação do instrumento, leva ao melhoramento ou criação de novo instrumento, que condiciona o desempenho humano.
O material tem sempre razão, contudo há sempre uma volta desconhecida a dar-lhe, ali à nossa espera, e a curiosidade é um vício que se instala cedo. Ao fim de alguns anos de experiências, os inconvenientes da curiosidade tornam-se óbvios. Sem entrar em mais pormenores, um deles é que se acaba com uma diversidade de obra em cima dos braços que exige desesperadamente seleção.

Tinha prometido uma visita guiada à minha última exposição, a acompanhar uma escolha de obras, mas passou-se tanto tempo depois disso que deixou de fazer sentido. Vão ter que fazer a visita pela reportagem (dois posts baixo) da televisão local. Vou passar diretamente às conclusões finais.
Eliminadas estão obras mais velhas que quinze anos, passe a qualidade e o apelo que possam ter para os interessados, pois não me vejo a regressar tanto no tempo e no estilo. Sobraram, depois de olhar com atenção para as obras expostas (tenho tendência para as esquecer), e consultadas algumas opiniões externas, os três exemplos abaixo.

DIGITAL
Apesar da resistência generalizada dos apreciadores e editores sérios da arte ao desenho feito diretamente em computador, as magníficas reproduções que vieram de Beja para a exposição da Amadora fizeram boa figura. Os mais reticentes não as elegeram como o melhor da exposição, mas ninguém se atreveu a dizer mal, cara a cara com elas. É caminho que vou continuar a trilhar, em havendo tempo e condições.
Do exemplo abaixo podem ver outras versões neste blog. Material: Flash. Vantagem: cabe tudo numa caixinha, combate os vícios da excelência, presta-se a um sem número de novas experiências e corrige-se e adapta-se com facilidade. Desvantagem: faz doer as costas e pode provocar tendinites.

MEDUSA
Esta é uma história infantil feita em conjunto com Nina Govedarica, a primeira experiência no género para ambos. Outras histórias estão na calha, caso haja tempo e condições (de todos os editores contactados apenas um respondeu, negativamente e cerca de ano e meio depois... por este andar...), mas gostámos tanto do resultado, apesar de ainda haver muitas coisas a resolver, que vamos fazer um esforço suplementar. A aprovação foi geral, tanto mais que as ilustrações funcionam melhor ao vivo. Material: lápis (eu) e acrílico (Nina). Vantagem: é bonito e trabalhar a dois é estimulante. Desvantagem: os editores dormem.

CHEZ, MARRECO!
O vencedor, por estranho que pareça, foi o Marreco, na técnica aqui utilizada (que condiciona, como já se viu, o desempenho). Apesar da aprovação não ter sido tão unânime como para o infantil, teve votos de peso, entre eles o de Jean Schulz. O exemplo abaixo foi publicado num jornal local, Grandamadora, nos finais do século passado e é herdeiro da técnica utilizada na página apresentada no post anterior. Podem ver mais exemplos desta sob a designação LABELS/INK FLOW, ou folhear o livro através do link yudu.com (coluna da direita sff). Material: tinta permanente aguada sobre papel Canson mi-teintes, aparo Rotring macio trabalhado de costas (o aparo). Vantagem: presta-se à espontaneidade e à facilidade da tradução da ideia para o papel (pode facilmente ser executado sem esboço) e o resultado é elegante. Desvantagem: está condicionado por um tipo de material, neste caso o aparo, o que é muito irritante, sobretudo num país com falta crónica de materiais de que precisamos num dado momento.











Wednesday, October 26, 2011

O UMBRAL LUMIOSO



Luminoso, adj. Que tem luz própria; brilhante; resplandecente; fig. evidente; claro; perspicaz. (Lat. luminosu)
Lumioso
, adj. (pop.). O m. q. luminoso.
(Dicionário de Português, Porto Editora, 4ª edição, já muito velha e rasgada)

A palavra introduzida não foi encontrada. Por favor corrija ou escolha uma sugestão.
(Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, online)


lumioso
lu.mi.o.so
adj (lat luminosu) ant Luminoso.
(Dicionário Online, Michaelis - UOL)

Conheço alguns críticos, colecionistas, especialistas, comentadores, divulgadores, (que sei eu, que sabemos nós?) de banda desenhada que nem depois de estarem à mesa de conversa com os autores conseguem evitar erros e apreciações fáceis de repetir, e que seriam também fáceis de corrigir, tal a ânsia em dizerem o que pensam que pensam e o que pensam que sabem, quase sempre dentro dum previsível molde de senso comum.
No que respeita a Fernando Relvas autor (o outro lado do Urso), alguns têm sido apanhados nas malhas do Umbral Lumioso.

Princípio de história menor, morta à nascença pelo fim da minha colaboração com o jornal Se7e (ver post anterior), hesitante tentativa de mudança de registo, O Umbral Lumioso estava destinado a cair no esquecimento, apesar de eu lhe ter dado nova forma, mais consistente, tanto no desenho como na história, mais de uma década depois (ver label Guncina at the Stake). Esta segunda versão contempla apenas a perseguição que dois primos movem ao estrangeiro que desonrou uma prima comum, pondo em risco a herança de um deles (título em português Pela Honra da Nossa Prima), destinava-se a ser um curto filme de animação, e não toca no lado místico da história original.

Como ia dizendo a propósito das malhas do umbral, sobretudo lumioso, já por várias vezes corrigi a irritante mania dos latinistas em classificarem o umbral de luminoso. Já lhes passou pela cabeça que eu tenha escolhido a palavra lumioso para dar ao título um cunho mais arcaico e popular (estão a ver o monge franciscano num dos últimos desenhos publicados, abrindo os braços como um corvo marinho, em exaltada pregação, é ele o homem do umbral lumioso)?
Pensarão todos eles que o autor é apenas disléxico, que quis fazer uma homenagem a uma conhecida série de banda desenhada (alguém se lembrou desta, tanto é certo e confirmado), ou será que alguém um dia se enganou, ou pensou que o autor se tivesse enganado, e o erro foi copiado uma e outra vez?
Como explicar então que eu já o tenha corrigido mais do que uma vez e ele volte de novo à superfície, qual bóia numa piscina de banhistas? Ou será esta uma forma de o Umbral, manipulando mentes incautas, regressar à sua forma Lumiosa, recusando-se a cair no esquecimento (Ui!)?

Vem isto agora a propósito do AmadoraBD e do texto sobre mim, escrito por Pedro Mota, para o catálogo do festival. Sempre me pareceu estranho que se escreva sobre alguém que está perto e acessível, sem primeiro o consultar, sondar, espiar ou mandar investigar. Mas já tem acontecido, e até me deixou uma vez na caricata situação de me sentir morto há vários séculos e interpretado como se interpretam as estátuas em cima de que cagam os pássaros.
O texto é simpático, como são normalmente os textos assim feitos sobre o meu trabalho, e inteligente (contudo também existem exemplos de antipatias de qualidade), mas a páginas meias ele lá está, o latinisticamente correto Umbral Luminoso! Mais um incauto caído nas malhas do Umbral, pensei eu com desgosto! Se ele tivesse falado comigo, eu tê-lo-ia avisado: Ó Pedro, cuidado com o Umbral!
Tirando isso, só tenho um reparo a fazer. Não foi o álbum que deu cabo da banda desenhada em Portugal. Álbuns nunca seriam demais e o Relvas tentou por várias vezes publicá-los sem sucesso, antes dessa fase. Pelo contrário, houve poucos álbuns.

O que deu cabo da banda desenhada em Portugal foi uma sociedade de compadrios e fidelidades de características rurais, de doutores-e-engenheiros, de falsos otimismos e de imitações de prosperidade, de élites paradas. Deu cabo disso e de muitas outras coisas, e persiste, e está para ficar, cada vez mais de calhau e caliça.

Thursday, June 02, 2011

BEJA

Chegámos há poucos dias do primeiro fim de semana do festival de banda desenhada de Beja (há mais, ainda estão a tempo), onde, no meio das atividades e de uma generosa e vertiginosa dose de convívio, ainda tivemos tempo para tirar fotografias, algumas que podem ver no Urso do tumblr da corrente semana. São fotos da cidade. Se quiserem acompanhar os acontecimentos do festival, aconselho-vos a dirigirem-se ao blog Kuentro de 31 de Maio e de 1 de Junho.

Thursday, May 26, 2011

IO & HU Q EM LIVRO, LI MOONFACE EM BEJA

Podemos finalmente anunciar a saída (discreta) da aventura de Io e de Hu Q, em busca da Medusa que sabe tudo o que há a saber. Se visitarem a minha montra de livros em lulu.com verão que há lá um título novo, A Medusa, história executada a meias com Nina Govedarica. Afinal, tudo saber pode não ser tudo! A versão em inglês está programada para a semana que vem, e aí poderão ler mais sobre esta história no respetivo blog.
Já este fim de semana estaremos presentes no festival internacional de bd de Beja, onde será lançada a versão em português de Li Moonface pela PedraNoCharco, desta feita a p&b. Mas, para quem estiver interessado, existe a versão a cores na lulu.com, em inglês.
Ainda em Beja, no próximo sábado, será lançado o nº27 do BDjornal com (quase) tudo o que vocês ansiavam saber sobre Fernando Relvas.
Mais informações no blog Kuentro e no site do festival de Beja.

Friday, August 20, 2010

KILL THE PAST IN THE FUTURE

I liked so much making a poster to remind me of an idea for a story (previous post) that I decided to make more of them.

But in this case I am already making a story around the theme above, although with a different approach.

In the story I am making now (you will see it in this blog as soon as the first chapter is finished) Miss Li meets an old friend concerned with time travel, Ulysses Mbondo, who keeps saying things like "What comes next comes first" and "The past is us" while trying to explain why he got some time travelers stuck in a huge artificial island creating havoc.

And then, sometime yesterday, I stumbled on this article on the Huffington Post. Take a look.

Wednesday, August 18, 2010

THE SPORES ARE COMING!

If nobody makes a story about it I will do it someday. See this article about "zombie ants" on the Guardian.

Tuesday, July 27, 2010

FUNNY ILLYRIANS WITH LONG NOSES

The posts about our - me and Nina - stay in Croatia and travels in Istria have been edited and condensed into this one after the photographs and some of the drawings were moved to tumblr.com, where you may go on following them.
I only retained here the first drawings, photographed and edited in Photoshop, playing with color balance and brightness-contrast. All of them are simple small line drawings, the bottom two on yellow paper, the other ones on white paper.
Those Illyrian or maybe Greek artists (above) liked to see themselves with long funny noses and no beards. You may find these in the Archaeological Museum of Istria, along with many interesting items.
Pula/Pola (follow this link for the address), Istria. If you came from the Historical Museum, you will have to go around a while before you find the place. Then greet all the Roman statues that mark the entrance.
Luigi (above) is the name of the boat on exhibition at the entrance of the Historical Museum of Istria. The life in the old Austro-Hungarian shipyards of Pula is largely documented in the museum. You can also see in these drawings details of the rudder. The rudder attracted my attention because it made me think immediately of the old war galley's rudders, probably attached in the same ingenious way. To get there walk up to the old Venetian Fortress.
We were there in 2004. We had just come from Malaga. In our first summer together in Croatia me and Nina were selling our work on the street in Pula. It was fun, we didn't make much money but we had to pay none anyway. It is over now. When we were there we were almost the only independent artists showing drawings and paintings on the street. One of the local best known artists died that summer. You will not see any now. Close to the Forum in Pula/Pola, Istria.

We still sell our work. If you want to see it, here are the links:
http://www.cat-on-the-beach.blogspot.com
http://www.artslant.com/global/artists/show/86566-anica-nina-govedarica
http://stores.lulu.com/relvas
enjoy.
Above, house near the Forum in Pula, the Istrian metropolis. The street on the background goes round the perimeter of the old town. It is a tourist's paradise. There you can buy all sorts of souvenirs exactly like the ones you bought in similar places around the world but with different tags, posters that sometimes look like paintings and paintings that sometimes look like posters, cheap pizzas and minuscule čevapi (tchevapi) only balanced with expensive seafood. You may also lay down on one of the several empty Roman sarcophagi scattered around and visit a high density of ruins whitened by ages of sunshine and storms.
To obtain this perspective get out of the crowd and turn to a garden close to the parking lot. I once dreamed of opening here, in a large empty space for rent, a bar or a disco called Pula-pula.

Two images of two different vans we found on our travels to Istria. To read the captions and see more you may go to tumblr.com.

Tuesday, June 29, 2010

OS CORNOS DO TOURO

Recebi esta mensagem ontem , por email:

"A entrada em vigor do Decreto-Lei 72-A/2010, de 18 de Junho cativa 20% das receitas do ICA relativas a 2010, significando menos 2 milhões de euros para os programas de apoio à produção, à criação, à distribuição e à exibição para este ano; este decreto implica ainda e em complemento um corte cego de 10% em todos os compromissos que o ICA assumiu com filmes e outros projectos em curso, cujos contratos de atribuição de subsídio são anteriores à data de 1 de Janeiro de 2010.

Este é o sacrifício que o Governo está a impor a este sector já tão fragilizado. A falência das produtoras, projectos a serem cancelados, rodagens a serem interrompidas, desemprego entre actores e técnicos, vão constituir o efeito imediato destas medidas. O futuro do sector está em risco. Por isso, convocamos produtores, realizadores, actores, técnicos, festivais e cineclubes para uma reunião a decorrer na próxima segunda-feira, às 18h, no São Jorge."

O meio do cinema de animação não é o meu senão marginalmente, mas sempre me fez impressão que os pagamentos de subsídios, numa actividade que não pode sobreviver sem eles, andem por norma atrasados, quando não muito atrasados. Como devem calcular tal hábito dificulta a vida a toda a gente que tem contas para pagar e afoga qualquer pequena empresa.
Àparte a história da crise (sempre "a verdadeira", a tal situação que "nunca esteve tão má"), conversa antiga que em Portugal serve habitualmente de desculpa a todas as manhas de mau pagador, dizia eu, àparte a crise, que agora tem aval internacional, faz-me ainda mais impressão que sejam decretados cortes a pagamentos que já deveriam, pelo que percebi, ter sido efectuados.

Quanto ao meio da banda desenhada, novela gráfica ou o que lhe quiserem chamar, que normalmente se mistura com o da animação, ilustração e cartoon, não me parece que o aval da crise internacional se lhe aplique, pois não sei o que se lhe possa cortar mais.
O mail dum amigo meu que recebi há dias e algumas notícias soltas dão-me a entender que não só as hipóteses de publicar os autores existentes, profissionais batidos ou autores emergentes, são quase nulas, como o desrespeito dos editores pelos próprios autores e pelo seu trabalho segue a norma em vigor na última década do século passado.

A partir do final dos anos oitenta instalou-se o mau hábito, entre editores e publicações periódicas, de cortar, sem aviso ou justificação ao leitor, as histórias ou séries em curso. Só eu levei com várias interrupções, cujas culpas me cairam obviamente sobre as costas, apesar de só uma delas ter tido a colaboração do meu proverbial mau feitio. Até um dia, pois então, por duas vezes, entrou em acção a SPA e de uma vez o tribunal. Não me consta que a minha atitude tenha sido sequer bem vista.
Foi acompanhada esta vilania sistemática pela tentativa de arrastar os pagamentos do trabalho dos autores pelo pó, usando as já conhecidas manhas de mau pagador, e que criou uma situação incontornável. As raras excepções não se generalizaram e agora... bem... agora é a crise, não é?

O que se seguiu foi o espelho perfeito da situação internacional, a tal que deu a crise que agora justificará todas as manhas, com a intensa actividade de festivais, pequenas publicações e workshops variados, algumas vezes com cordelinhos puxados por umas quantas mãos escolhidas a dedos e sobretudo dinheiros camarários. Trabalho que, este sim e apesar de alguma capelinhice tradicional, seria meritório, não fora, no mundo real, a arte não estar a render. Muita gente esqueceu-se , no seu entusiasmo, que não basta promover a arte, é preciso também publicar e sobretudo pôr a arte a render. Mas para isso seria necessário limpar mais de uma década de maus hábitos.

Recebi também recentemente dois mails, um a comunicar o balanço da actividade que o Diniz Conefrey fez no seu site Quarto de Jade, e que só vem juntar mais agruras ao panorama já esboçado, e outro da Cristina Sampaio a anunciar ter ganho o prémio Stuart de Desenho de Imprensa 2010 e que vem acompanhado com o excelente cartoon "O último a sair" (do país, que apague a luz). Não só o cartoon reflete bem a situação angustiada do pessoal aí na terra, como também a atitude normal do português face às situações que lhe impõem.

Talvez as particularidades dos divertimentos tradicionais dum povo nos possam dizer algo sobre ele. Se os portugueses têm os forcados em tão grande apreço não será porque, em geral, sejam incapazes de ir para os cornos do touro a menos que os empurrem?

(I join in here part of an old post from the Hard Line blog, in English, about the same subject)

I am away from Portugal since a long time and I don’t have much direct contact with people from my art. But from emails and commentaries on the internet I can guess the panorama doesn’t look much different from when I left. There is only one author, as far as I know, that lives from his art, which doesn’t make it a popular profession in Portugal, although there are a great number of authors with professional quality that publish occasionally and that, I believe, consider it the best part of their professional lives. Also as far as I know, there is only one successful copywriter, who is involved in almost all projects of comics and animation. There are several different reasons for this, let’s see some.
One, having one established example of something makes it easier for decision makers that are not fluent in the matter they are deciding to make the right choice.
Two, publishers, in order to tailor the market to their easiest and laziest solutions, hacked for more than two decades on the working conditions of the authors, with the result that the world seemed to stop. Few publishers saw results from this, though.
Three, there is a lot of stuff going around to distract our minds from the basic fact that there is still the need to fight with our bare fists and pens the sort of heavy-minded corporate somnambulists mentioned above. Organizations usually associated with town councils organize festivals, develop cultural activities on the side and even promote some authors and help publishing books. This is good work. People gather and talk, schools are involved, small editions printed. The situation seems rich in colors, information and opportunities, and the number of how-to-do specialists increase. But it doesn’t make it a profession. It’s like having a lot of silverware but no food on the table.

Friday, February 26, 2010

IN WESTERN IBERIA THERE EXIST A PEOPLE WHO PERSISTENTLY ATTEMPT TO COMMIT SUICIDE WITH A SAD SMILE ON THE FACE


Cartoon by Cristina Sampaio

When Portuguese people attempt to commit suicide they usually end up cutting one of their toes, worsening their situation, but that is a different story. I particularly like this drawing from Cristina Sampaio in A Drawing a Day, a site she started to keep herself fit and disciplined, with both published and unpublished works. Although the Portuguese Republic is today no more nauseated or suicidal than several other countries in Europe, it shows well the prevailing disgust of the Portuguese for not finding already paved the road to paradise. This drawing could punctuate all the years of the Republic and could be adapted to several centuries before that.

Cristina Sampaio also makes part of the group SpamCartoon with some of the best cartoonists in Portugal (with André Carrilho, João Fazenda, and also sound designer José Condeixa and scriptwriter João Paulo Cotrim), already on the links of this blog.
SpamCartoon has shown no activity since last summer, but is now hosted by a TV show (you can see the latest movies in YouTube).

Monday, October 05, 2009

THE AMERICAS

iPhone painting, by Jorge Colombo.

Jorge Colombo goes on making his touch-painting (the New Yorker calls it “finger painting”) revolution and adds to his prints and New Yorker covers created on iPhone some short movies showing us how the painting evolves. It is a show of very good work, instructive and entertaining (here).

Tonalamatl, by Diniz Conefrey.

Diniz Conefrey has maybe the best comic strip made in Portugal lately, Tonalamatl, following his excellent work on stories by Herberto Helder. It is a long saga, both the story and the making of it, if you can read Portuguese follow it on his blog (here the first part and here the second).