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Tuesday, October 22, 2013

Pessoarda


Pessoardinha (figura simbólica).

1) Um Pessoa empunhando uma sardinha. O Pessoa simboliza o génio literário sem prejuizo das funções normais de escriturário, muito apreciadas pela população urbana. A sardinha simboliza uma das mais antigas exportações nacionais de sucesso.

2) Um Pessoa com uma sarda na mão. Há quem defenda que o peixe representado é, na realidade, uma sarda. Sendo assim, esta figura simbólica mais ousada deveria chamar-se Pessoarda.

Em cima: um Pessoa brandindo uma sardinha, ou sarda, num campo de Outonos. O campo outonal representa o que não é quente nem frio, nem bom nem mau clima, o que não anda nem desanda, o que é de brandos costumes, de brisas febris e desalentos constantes.

XXX

É preciso passar mais do que umas férias fora de Portugal, até mais do que uns meses, para se sentir bem como o relógio não anda ao mesmo ritmo para toda a gente. Depois de quase sete anos fora, a sensação, ao pôr os pés pela primeira vez no Rossio numa tarde ensolarada de Setembro, foi a de ter desembarcado numa atmosfera de geleia de limão, dentro da qual as pessoas pareciam movimentar-se em câmara lenta, indiferentes a um mundo onde se praticam outras velocidades, particularmente as senhoras idosas, deslocando-se com um muito próprio andar pendular, cujo dá a ilusão de andar em frente andando de lado. Ou vice-versa.

Três anos volvidos a sensação dissipou-se, noto apenas que há muita gente que se movimenta devagar e cabisbaixa, arrastando o esmagador peso de ter que se arrastar a si própria, e o andar pendular não passa já de uma curiosidade que só algumas senhoras de idade praticam. Adaptei-me, acertei o relógio. Direi então que, tal como o resto dos portugueses, sou um biolento.

Resumindo o que se conseguiu fazer em Portugal entre dois dezanoves de Setembro, de 2010 a 2013. Desta última data em diante, a avaliação será feita no ano que vem. Estes anos passaram de movimento rápido a movimento lento e a movimento suspenso. Sobretudo, foi uma experiência emocionante. Nos primeiros dois anos fez-se um filme de animação, acabado dentro do prazo, mas já com condições limitadas pelo anúncio de cortes. O produtor foi obrigado a encerrar o estúdio. A partir daí entrei em modo de sem-rede, qualquer tipo de rede. O país aprofundou o estado de delírio depressivo em que vinha vivendo. Recebi dois prémios. Simbólicos, assim como o Pessoardinha. Publicaram-se dois livros, por pequenos editores. Com rendimentos também simbólicos. A parte emocionante foi sobreviver, dia a dia, hora a hora, ao último ano.

Apesar de acertado o relógio biológico, fica ainda uma inquietante incompreensão por fenómenos a ele ligados. Como o manifesto desalento com que muita gente acolhe qualquer esboço de acção concreta e também o hábito generalizado de simular estar a resolver um problema sem na realidade meter mãos à obra, com todos os teatros e fogos de artifício que isso envolve. O que mais surpreende é as pessoas parecerem pensar que estáo mesmo a resolver qualquer coisa. Logo desde os primeiros dias em que chegámos a Portugal, ouvimos coisas espantosas.

Ouvimos, incrédulos, longas tiradas de prosa quimérica sobre as verdades da vida, ainda que em contradição com o que está à vista, com a desesperada certeza de que tudo o que cá está, está no sítio certo e se outros o têm fomos nós que o levámos para lá, e que não há no mundo outro povo que saiba como comer bacalhau.

Ouvimos muita gente dizer que é normal encontrarem-se portas fechadas, por considerarem que o próprio país fechou. Assim, naturalmente, devagar...

Ouvimos o silêncio oco do mau pagador, tão antigo e tão enraizado neste país, que já só se ouve com o nariz.

Ouvimos sapatear em vários estilos de passo lateral lento. Este consiste numa manobra de diversão em que vários passos lentos, muito visíveis, simulados para o lado, pretendem dar a ilusão de um passo enérgico em frente, sempre que necessária a execução de uma tarefa concreta.

Ouvimos, numa das primeiras de muitas manhãs passadas em balcões da segurança social e das finanças, o grito triunfal de uma funcionária atravessar uma sala cheia de gente, “Não há rede! Vamos todos almoçar!” Se ainda não tínhamos percebido onde estávamos, ficámos a saber.

Assistimos a várias tentativas baixas para nos sacarem dinheiro. Os quadros que trouxemos da Croácia foram alvos perfeitos, logo desde a alfândega. A parte mais cómica foi ver uma funcionária apontando freneticamente para o texto da declaração do ministério da cultura croata, tentando fazê-lo passar por um texto em inglês, numa tradução imaginária de sua conveniência.

Por outro lado, também tivemos a grata surpresa de ver a polícia resolver-nos um caso quando já quase o tínhamos esquecido, o que, depois de tudo isto, deveras nos espantou.

Coincidindo com o nosso regresso, caiu com estrondo a nova cara da sempre choramingada crise. Um quarto de século a pôr remendos numa máscara de prosperidade emprestada, eis o resultado.

Ouvimos, então, repetida vezes sem conta e com ares de consensual sabedoria, a mais aviltante desculpa que alguém poderia inventar, a de que o português é bom, só que é mal dirigido. Aparentemente a questão estará entre o conceito de governante e o conceito de gestor, mas isso é irrelevante porque os milagres não são do domínio nem de uns, nem de outros. Depois, o português não precisa de ser bem dirigido para ser bom. Precisa de estar inserido em todo um ambiente mais funcional, ou seja, é preciso não um bom gestor mas sim um ambiente inteiro num longe daqui inteiro. Depois, governantes e gestores, para ganharem o seu têm que tirar do teu, devolvendo-te qualquer coisa, de preferência que tu não tivesses de outro modo, o que significa que, em determinado ponto do processo em full swing, dêem-lhe a volta que lhe derem, a única coisa certa é que estão lá para te tirarem tudo o que puderem tirar, em troca de produtos viciados e, de preferência, viciantes. E isto dificilmente ajudará à solução do problema. E, por fim, é uma desculpa manhosa, abdicar da dignidade de ser pessoa responsável para não ter de assumir que o problema poderá estar entre as suas próprias mãos.

Talvez a razão possa estar escondida atrás de um verbo de sonoridades estilhaçantes:

pro.cras.ti.nar
(latim procrastino, -are, deixar para amanhã)
1) Deixar para depois, adiar, retardar.
2) Usar de delongas.





Como se chega lá? Para tentar compreender como se forma um país que desde há muito funciona parando, comecemos, então, pelo mais evidente, o biolento.


É histórico. O português é biolento. Chamam-lhe alguns os brandos costumes, se bem que isso não englobe a totalidade do fenómeno. Defendem alguns que por causa do clima. Talvez. Da brisa atlântica. Talvez. Do isolamento. Talvez. Seja qual for a razão, ou razões, é algo que está por aí. Pode mesmo ter desempenhado um papel importante na independência deste país eternamente outonal. É que isto pega-se e, quando se agarra, não há maneira de lhe dar a volta.

Imaginem-se hostes castelhanas numa hipotética invasão, batidas pelos maus ventos que as empurravam de Espanha, a serem apanhadas, a meio caminho de Lisboa, por uma estranha sensação de torpor. Presas de desânimo, que mais lhes restava do que arrastarem-se pelos campos e lezírias encharcadas, cabisbaixas e modorrentas, transformadas nos seus próprios verdugos, até ao ponto em que reconheciam a inutilidade de sofrer tão desgastante ventura, em vez de estarem a celebrar a vida com tapas, pinchos e viño fino. Ainda que chegassem até às muralhas da cidade, um ataque de peste e a ameaça de um desembarque de mercenários ingleses soaria a retirada definitiva.

Mas, teriam os portugueses medievais já esse feitio de lidar com o tempo? Estará mesmo o uso do tempo agarrado aos efeitos do clima? Fazendo fé de forais e notícias de torto, suspeita-se que a lei fosse muito relutante e os desfechos brutais. Imagino que, descontando as alturas em que era violento e brutal, o português era não só biolento, como também já seria um protocolento em botão. Os dois parecem ser inseparáveis, hoje em dia. Provavelmente manobrava por entre os meandros de um código de atitudes e fidelidades já herdado dos romanos. Daí viria a desenvolver o gosto por jogos de mesuras, alianças e rituais, em função das suas conveniências. Quando não estivesse a rachar a cabeça a alguém, claro.

Nas zonas de influência islâmica o protocolento seria mais ao estilo salamalequento. Juntos poderão ter formado hábitos de fronteira, hábitos de compadrio alargado regido por um cauteloso sistema de comportas rituais e procrastinadoras, um pouco como cofres de abertura retardada. Não me parece que o papel do clima possa ter sido predominante, neste processo.

Dir-me-ão que, mesmo sendo lento e mesureiro, o exemplo da tão cantada epopeia das descobertas viria mostrar quão dinâmico e decidido o português soube ser, no momento mais criativo da sua história. Em parte é verdade, mas uma parte bastante mais reduzida do que se quer fazer crer. Na realidade, a aventura marítima até viria a firmar a tendência existente. Senão, vejamos.

Comecemos pela realeza. O primeiro rei da dinastia que iniciou a dita epopeia teve vários filhos, meio ingleses, teoricamente meio-biorápidos. Contudo, segundo o cronista, ele próprio era um conhecido biolento. Por seu lado, o Infante, que tinha tido até aí uma vida recheada de emoções e intrigas, em que vira um irmão abandonado numa vala comum pelo sobrinho e um outro abandonado numa masmorra marroquina pela família, ficou mundialmente conhecido por se ter reformado à beira-mar a presidir a uma marcha lenta de descobrinhação. Três escravos aqui, uma família inteira acolá, dizia o Infante contando pelos dedos, vinte mais adiante, um par de rosas, ainda descobriremos ouro, vão ver, estamos quase lá, acreditem em mim.

Entretanto, morreu. O sobrinho, que era um rei daqueles de sair nas capas das revistas, todo tufado nos ombros enormes e nos sapatos descomunais, logo empandeirou o negócio, tentou uma aventura sebastianista no norte de África donde foi resgatado in extremis, entre outras desastrosas aventuras militares, que quase o iam levando em desgosto para a Terra Santa. Temos aqui um rei decidido e despachado, mas que não fez rigorosamente nada de útil.

Enquanto o rei cavalgava à sua custa e arruinava o país, o povo ia-se desenrascando. Biolentamente e procrastinando o mais possível, pelo seguro, pois enquanto cá está deste lado, é meu. Ainda os hábitos fronteiriços. O clima, entretanto, tinha mudado bastante, donde se deduz que pouca ou nenhuma importância teve para o caso, pois os hábitos transmitiram-se, sobreviveram e refinaram.

Abre-se aqui um curto intervalo, possibilitado pelo alargamento dos horizontes marítimos. Vamos, por fim, ver algumas figuras realmente decididas e despachadas. O novo rei, como decerto sabem, pois é episódio que estremece o coração de qualquer plebeu, despachou algumas cabeças de famílias nobres, inclusivé da sua própria família e por sua própria mão, e não só ressuscitou a empresa de descobrinhação do tio-avô, como lhe deu novos contornos e a encaminhou para uma coisa séria. Um dos jovens cavaleiros da sua casa seria mais tarde um dos mais dinâmicos e originais governadores das Índias.

Muitos outros houve e, claro está, também eles morreram. Heróis rápidos num autêntico filme de acção que acabava espalhado lentamente em praias tropicais, atascado em sangue e em febres...

... afogado no familiar nepotismo da administração...

... ou no fundo do mar.

O povo emigrava às carradas, morria em camadas e desenrascava-se ao ritmo índico. A distância da terra-mãe criava um maior à-vontade em termos de normas sociais, democratizava-se o uso de prerrogativas. Em suma, o português descobria um biolento exótico e ganhava uma nova paixão pelo abuso de códigos sociais.

O século seguinte viu os portugueses da Índia zangarem-se amiúde uns com os outros, por vezes de modo muito violento, intrigarem e puxarem-se mutuamente o tapete, por vezes usando apenas orelhas moucas e a já nobre arte da procrastinação.

Andavam lentamente pela rua, para se darem ao respeito, hábito que perduraria por vários séculos enraizado na imaginação da nobreza. Perguntar-me-ão, como pode alguém dar-se ao respeito andando como uma galinha, responder-lhes-ei, com uma espada à cinta e umas dezenas de capangas armados atrás. Sendo invejosos – pois a vaidade e a inveja têm um papel muito importante nestes assuntos – até à mais baixa parvoíce, tinham criados que lhes traziam as cadeiras até à igreja e que se batiam entre si pelos lugares a que os senhores achavam ter direito. Séculos de escravatura terão também deixado a sua marca nestes hábitos.

Qualquer problema ou mal-entendido de monta em Macau ou na Índia implicava uma viagem a Lisboa ou, mais tarde, a Madrid, sem a qual nada se resolvia, mas com a qual se poderiam limpar milagrosamente vários tipos de crimes. Os grandes iam a Madrid, os pequenos iam onde calhava, o que era preciso era cumprir o protocolar purgatório e olear o compadrio.

A partir daqui – crianças, acabou-se o intervalo – instalou-se definitivamente o já conhecido biolento e protocolento português, cauteloso procrastinador, que nenhuma guerra, austeridade ou regime ainda desalojou.

Foi também esta a época em que a Europa viu o nascimento de verdadeiras cortes de escribas e notários, com funções protegidas e uma linguagem própria. Estava inaugurada a época do funcionalismo de carreira e lançadas as sementes de uma estrutura frequentemente disfuncional que ocupa hoje boa parte da população do mundo, sementes essas que cairam muito bem nesta terra de mesuras e compadrios, de cerimónias e rituais.

“Cuidado com o que diz. As palavras hoje, amanhã, depois de amanhã e para a semana, podem representar um insulto aos papéis que estão em lista de espera.” Podem escrevê-lo num azulejo e distribuí-lo nas repartições.

Um exemplo de como as novas tendências burocráticas se vieram engavinhar nos velhos hábitos de fronteira e chegaram aos nossos dias. Leva-nos pelo menos um mês a interpretar um exame médico feito nos serviços de saúde públicos. Noutros países, ainda que em semelhante situação económica, o mesmo exame está pronto e visto pelo médico no próprio dia. Como é que eles dominaram a técnica de fazer tudo num dia? Ter-se-ão esquecido que há um cerimonial a cumprir, nestas coisas do conhecimento? Quanto a nós, devemos ter o serviço de saúde mais cerimonioso do mundo. Como dizia um rei, morrer sim, mas devagar. Está aí tudo resumido.

Mas, adiantamo-nos. Assim, a nossa história andou lentamente pelo século seguinte, apenas abalada pelo terramoto. Para o que aqui nos interessa, teremos que saltar as invasões francesas e as guerras civis e olhar para a magnífica paisagem que se nos apresenta logo a seguir. Oportunistas e carreiristas de múltiplas espécies polvilham o cenário, vestidos de reposteiro, com espadim e pasta nos corredores dos ministérios. Pimpões há que não só acumulam comendas, como são várias vezes marqueses, um pouco condes disto, um pouco condes daquilo e ainda dão uma de duques na missa de domingo.

Idos os fatos de reposteiro e espadim, que ainda passaram pela república, à excepção dos títulos nobiliárquicos, sobram-nos hoje os doutores de uma certa geração muito dada a atalhos, que ainda dão escândalo de vez em quando, doutores que não sabem para que lado fica a China, apenas sabem do seu oriente. Mas até isso há-de passar, afogado numa maré de emigração de cursos de design gráfico e humanidades.

Os amantes do cerimonial e os ritualistas, os colecionistas e os catalogadores, contudo terão sempre lugar. Entre eles estarão aqueles que encaram o ritual com bonomia, a boa cara da cerimónia, e os colecionistas dedicados, que colocam as coisas sempre no mesmo sítio mas também as mantêm vivas, porém também os vaidosos e os invejosos de sempre, os ciumentos e os intriguistas, os simplesmente inábeis, os atrapalhadores de serviço para quem as voltas do segredo são um instrumento e um vício. Estes ainda cá estarão, quando os emigrantes regressarem, como uma plantação de arbustos de espinhos. E perguntar-lhes-ão os arbustos “Não há lá gente séria como nós, lá donde viestes?” Ao que os que regressam lhes responderão, rindo, “Sim, mas nunca vimos tantos protocolentos juntos, a atrapalhar no mesmo sítio.” E que faz um protocolento, para além de atrapalhar?

Não é assim que se faz, diz ele. Esta é uma das frases que pode identificar um protocolento de carreira, seja ele de que quadrante for, sonhando com uma gloriosa reforma ou almejando mesmo ter, um dia, um busto no canto de um jardim ou, ao menos, o nome numa placa que não seja de cemitério.

Não é assim que se faz, sendo dita com cuidado e em surdina, acarinhada como uma peça de veludo, mostrada como uma arma afiada ou um tesouro, é a frase reveladora daquele que conhece e respeita todos os meandros do consuetudinário protocolo, certo de, através da sábia fórmula, lá ir trilhando os caminhos da fama local e da glória bairrista. Ser protocolento é como pertencer a uma grande sociedade discreta de portugueses cuja finalidade não é melhorar as coisas existentes e inventar novas, mas sim ganhar o seu e ser respeitado pelos pares e admirado pelos vizinhos.

Apesar de tudo, este sistema funciona. É sucesso garantido e estabiliza o capital, pela repetição de uma fórmula, testada em vários outonos. Normalmente cria híbridos do gosto popular, ele mesmo herdeiro de outros híbridos, com uma vaga tendência internacional recente. Sendo o trabalho bem feito, pode resultar mesmo algum efeito mais profundo do que uma vaga imitação em série. Sendo o trabalho mal feito é um grande empecilho, pois o gosto do povo raramente os distingue. Em qualquer dos casos é, também, uma grande contribuição para o assoreamento das ideias.

Contas por baixo, nos meus tempos de liceu passei por não menos de seis, até hoje vivi em pelo menos cinco localidades portuguesas diferentes e três estrangeiras e, por pouco tempo que lá vivesse, nunca fui turista. As exposições dos meus trabalhos ou se concentram num período, ou parecem colectivas. Cada nova aventura não é entusiasmante sem um novo estilo de desenho, um novo tipo de escrita ou, no mínimo, um arranjo gráfico diferente. Cada assunto só é interessante enquanto não completamente dominado. O texto, que foi tantas vezes caluniado quando da publicação semanal, não é fácil de seguir. Já se vê que não me dou bem com o sistema atrás descrito. Também não me é simpático quando me atravanca o caminho. Colarem-me às costas trabalhos passados, sugerirem imitar-me a mim próprio, também é casca de caracol que dispenso.


Lamento se pareço ingrato, mas alguns dos leitores de banda desenhada que podemos enquadrar no campo dos colecionistas revelam, quanto a mim, um impenetrável imobilismo ao escolher apenas os meus trabalhos mais antigos, como referência. São pessoas de gostos agarrados àquilo que consideram ser sério, em que apreciação estética é sinónimo de catalogação correcta. Não é solução tentar mostrar-lhes, a cada passo, que por cada um desses há outro melhor, mais recente e com vida mais instável, algumas vezes interrompido pelo próprio editor. Por outro lado, o mundo português dos críticos de banda desenhada é um mundo de imaginação. Geralmente pouco dados à investigação no terreno, conseguem dar novos títulos às obras que comentam, elaboram longos textos embrulhados em palavras formadas por aglutinação germânica, descobrem ligações a outros autores que o próprio autor desconhece, discutem entre si técnicas e influências que o autor não sabia possuir, enfim, um exótico fermento de invenção. Creio que, se estivesse no seu lugar, me divertiria bastante. Porque não aceitá-los, tanto críticos como colecionistas,  tal como são? Neste nosso mundo um pouco quântico, águas passadas ainda movem moinhos, contudo águas paradas não. A minha preocupação é, agora, desassorear a barra.

Friday, October 14, 2011

BIOBIBLIO

Não será ainda desta que se conseguiu organizar uma cronologia completa e rigorosa dos meus trabalhos, não só porque alguma indefinição me é agradável, talvez porque tenha aprendido na escola que para ter boas notas a História convém não dar muita importância a datas precisas, mas também porque dá trabalho. Trabalho que os conceituados críticos e historiadores de arte da nossa praça andaram a fazer da maneira que melhor sabem, repetindo durante anos boatos e gralhadices várias, evitando com afincado rigor consultar as fontes e os arquivos.

Mas nalgum lado, algum dia, isto teria que ser arrumado. Artigos, informações ao vento (incluindo uma surpresa até para mim, a minha ubíqua participação no festival da Amadora de 2008) e outras tentativas de organização foram sendo juntas por Jorge Machado-Dias para o BDjornal e depois tivemos os dois uma cerrada comunicação e-epistolar durante uns meses, para prepararmos material para o festival de Beja. Mas, apesar disso, faltaram coisas (e continuarão a faltar).

O texto que se segue, para o catálogo da exposição integrada no festival da Amadora é, até à data, o mais completo e levou apenas a correção de uma gralha, a inclusão, no final, de uma informação importante que tinha ficado esquecida e a atualização de dois títulos, que passaram a fazer parte da exposição.
Estudo para personagem, 1977.

FERNANDO RELVAS – PARA UMA BIOBIBLIOGRAFIA

Jorge Machado-Dias

João Paulo Cotrim, escreveu na introdução do catálogo da exposição Relvas – À Queima Roupa, organizada pela Bedeteca de Lisboa em 1997, o seguinte: “Há uma sindroma Relvas: o talentoso boémio indisciplinado e irrascível que não consegue cumprir um prazo, acabar uma história, fixar-se num estilo, publicar um álbum. Uma espécie de metáfora da banda desenhada em Portugal, que, com pequenas alterações, vai funcionando como álibi para justificar o Estado das Coisas. Como na maioria das ideias feitas, a parte de verdade senão está morta moribundou-se.

O mito dá jeito, e, de vez em quando, talvez até ao próprio, mas não resiste a uma reflexão.
Vão cumpridos mais de vinte anos de produção profissional (e convém que sejam estas palavras frias de operário) que acumulou uma impressionante quantidade de pranchas, caricaturas, cartoons, tiras cómicas e... personagens que vivem na memória de muita e diferente gente. Alguém pode achar que tamanha produtividade ao longo de tanto tempo se pode encaixar no molde apertado da síndroma Relvas?”

Catorze anos depois deste texto escrito e cumpridos trinta e sete anos de carreira de Relvas, basta ler a cronologia abaixo, muito provavelmente ainda incompleta (1), para nos apercebermos de que a síndroma indicada por Cotrim, é mais um mito do que outra coisa. Mito esse acalentado em muitas conversas, no típico “diz que disse” português, especialmente alimentadas pela ausência do autor durante quase seis anos, “auto-exilado”, como costumo escrever – firmando conscientemente o mito –, em Zagreb. Até porque o autor, no tal “auto-exílio”, perante a negação sistematicamente picuinhas dos editores portugueses (de periódicos ou de livros), encontrou formas de se publicar, provando que o tal mito é mesmo... um mito!

Senão, vejamos:
Fernando Relvas, Lisboa, 1954. Autor de banda desenhada, cartonista, caricaturista e ilustrador português, autor de storyboards de animação, publicidade e de ilustrações de livros escolares e infantis.

1975
Jan. – Participa no Jornal/Fanzine O Estripador, director Duarte Boavida, com Melo Relvas (Relvas assinava assim), Delfim Miranda e Bruno Scoriels. Diz Fernando Relvas: “O Estripador não se considerava um fanzine, mas um jornal, talvez aquilo que muito mais tarde o Julio Pinto classificaria como um "calhário", e que não passou do número 0, que foi feito em 1974 mas só saiu em Janeiro de 1975 (problemas de gráficas), levávamos a coisa a sério n’O Estripador, cheguei a ir fazer reportagem a comícios e tudo, já em 75, que nunca foram aproveitados para o número 1. Mas em boa verdade, 1974 foi o ano em que produzi a primeira coisa organizada”.
Dez. – Realiza e produz o fanzine O Gorgulho nº1 e, em Jan. de 1976, o nº2.

1976
Abr./Nov. – No jornal Gazeta da Semana: Chico. Alguns dos cartoon e bandas publicadas na "Gazeta da Semana" deram, no final dos anos 70, lugar a um livro, editado pela Água Mole, Sociedade Cooperativa, SCARL, designado "Gazeta do cartoon - de Zé d'Almeida / Gazeta da banda - de Fernando Relvas". A capa da "Gazeta da banda" era simultâneamente contracapa da "Gazeta do cartoon", ou vice-versa.

1977
Na revista Fungagá da Bicharada, de Júlio Isidro, publica Uki, o Pequeno Esquimó, Espaço 99 1/2 e Chin Lung, o Justiceiro do Rio Amarelo.
1979
Revista Tintin – O Espião Acácio.

1980
Fev. – Na revista Mundo de Aventuras, nº 332 (2ª fase), em separata: O Controlador Louco (11 pranchas + capa da revista).
Set. – Revista Mundo de Aventuras, nº 362 (2ª fase): O Povo de Ferro (1 prancha).
Revista Tintin – Viagem ao Centro da Terra.
Revista Tintin – Rosa Delta Sem Saída.

1981
Revista Tintin – L123.
Revista Tintin – Cevadilha Speed.

1981/83
Revista Pão ComManteiga: Os Planetas Mostram-lhe o Misterioso Mundo da Astrologia.

1982
Revista Tintin – Slow Motion.
Última colaboração na revista Tintin, que entretanto deixou de se publicar, com Kriz 3.
Início da colaboração com o jornal Se7e: Concerto para Oito Infantes e Um Bastardo.

1983
Jornal Se7e – Niuiork.
Jornal Se7e – Sabina.
Jornal Se7e – Ai, Este Chavalo Seria Tão Barilo Se...

1984
Jornal Se7e – Herbie de Best.
Jornal Se7e – Sangue Violeta.
Jornal Se7e – Tax Diver.
Jornal Se7e – Karlos Starkiller.
Jun. – Revista O Mosquito nº 2 (5ª série): história de 4 páginas com capa – Vast. Inclui entrevista de Geraldes Lino com o autor. Nessa entrevista ficou a saber-se que Relvas havia sido convidado, durante o Festival de Angoulême desse ano, por Jean-Pierre Dionet (co-fundador da mítica revista Metal Hurlant, com Moebius e Druilet), para colaborar na Metal Hurlant Aventure. Mas esta revista acabaria por deixar de ser editada, pelo que não chegou a haver colaboração alguma.

1985
Participou no Cadavre Exquis As Fantásticas Aventuras de Godofredo Leitefresco feita no programa da RTP “Arroz Doce”, de Júlio Isidro, que reuniu diversos autores da BD portuguesa da altura, tais como Jorge Colombo, Fernando Relvas, Carlos Zíngaro, Pedro Massano, Duart, Pedro Morais, entre outros, para a produção in loco das pranchas, que decorria semanalmente durante o programa. Publicado na revista Pau de Canela, do referido programa.
Publicou também (em datas a descobrir) no jornal desportivo Record, e na publicação ecologista A Urtiga, a série As Cabras de Isaac.
Jornal Se7e – A Sombra de Xizhakt Rabin.

1986
Exposição individual no II Salão Internacional de Banda Desenhada do Porto.
Jornal Se7e – Nunca Beijes a Sombra do Teu Destino – primeira história a cores.
Jornal Se7e – A Noite das Estrelas / Soviet Sex.
Jornal Se7e – O Diabo à Beira da Piscina.

1987
Jornal Se7e – O Mistério da Travessa dos Meninos de Deus.
Jornal Se7e – El Papagaio. Esta história foi iniciada com o título A Costa do Marisco – mas, esclarece o autor: “o Papagaio tornou-se independente e substituiu definitivamente A Costa... logo nas semanas a seguir, por isso considero só o Papagaio”.
Jornal Se7e – A Perversa Sobranceria do Hermetismo no Saber.

1988
Jornal Se7e – O Atraente Estranho, que inclui A Missão.
Jornal Se7e – O Umbral Lumioso. Diz o autor: “Foi de facto esta a última história começada no Se7e, mas a minha colaboração foi dispensada ao fim de muito pouco tempo, por acordo das partes – ou seja, o novo director do jornal, que alcunhei de Cebolinha e de quem esqueci o nome, e eu, chegámos à conclusão que já estávamos fartos um do outro, eu fiquei no desemprego e a história ficou-se pelo início, em parte ainda veio a influenciar a criação do Pela Honra da Nossa Prima, storyboard de animação apresentado a concurso de curtas do ICAM em 2002, e que mais tarde, em Maio de 2009, traduzida para inglês como Guncina at the Stake, foi posta no blog.”

1989
Revista Sábado – O Rei dos Búzios, cuja publicação seria interrompida por decisão editorial.
Set. – Exposição Colectiva – BD Portuguesa Hoje. Catálogo editado pelo Comicarte, patrocinado pelas Edições Asa no V Salão Internacional de Banda Desenhada do Porto..

1990
Nov. – No Programa da peça de Teatro “Aos Crocodilos Mete-se-lhes um Pau na Boca” a partir “Le Bouder” de Enzo Corman, no Teatro Nacional D. Maria II: 6 pranchas de banda desenhada.
Ganha o 1º prémio do Concurso “Navegadores Portugueses”, do Centro Nacional de Cultura, com a história Em Desgraça.

1991
Fev. – Revista LX Comics nº 3, com Gulf Stream, 4 pranchas.

1993
Publicação do àlbum, Em Desgraça, pelas Edições Asa. Revista de informação televisiva TV Mais (nesta, talvez em 1993) e revista Ler (1993)

1994
No jornal O Inimigo, de Júlio Pinto – Testos Torres Contra Cara Dread.
Jornal O Inimigo – Cacilda, O Regresso do Hipopótamo.
Out. – É incluído em Exposição colectiva, onde se mostrava a temática dos descobrimentos portugueses na banda desenhada no V Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora.

1995
Publicação do àlbum O Nosso Primo em Bruxelas, por edições Livros Horizonte, e que deveria ter sido editado anteriormente pelas edições Asa, que o encomendou em 1993.
Out. – Exposição individual onde apresenta as pranchas de Çufo, no VI Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora. Expõe também estudos e esboços de pranchas para a história A Rainha Jinga, ainda no ambito do apoio do Grupo de Trabalho do Ministério da Educação para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, mas que nunca chegou a ser realizada.
Nov. – Revista Quadrado nº 2 (2ª série), da Associação Salão Internacional de Banda Desenhada do Porto, com Testos Torres Contra Cara Dread (remontada em 4 pranchas) – Episódio de Karlos Starkiller. Com texto de apresentação de João Miguel Lameiras.
Nov. – Exposição individual comemorativa dos vinte anos de carreira, comissariada por Júlio Moreira e lançamento do álbum Çufo, editado pelo Grupo de Trabalho do Ministério da Educação para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, no VIII Salão Internacional de Banda Desenhada do Porto.
Em fanzine, auto-edição – O Ananás que Ri.

1997
Publicação do àlbum Karlos Starkiller, pelas Edições Baleia Azul/Bedeteca de Lisboa.
Mar. – Relvas, À Queima Roupa. Exposição individual comissariada por João Paulo Cotrim, na Bedeteca de Lisboa. Textos do Catálogo, de João Paulo Cotrim, João Miguel Lameiras, Jorge Colombo e entrevista de Viriato Teles com o autor.

1998
Publicação do àlbum, L123, pela Edição da Associação do Salão Internacional de Banda Desenhada do Porto.
Jan. Exposição colectiva comissariada por João Paulo Cotrim, Carlos Pessoa e Júlio Moreira, Perdidos no Oceano – 17 Autores Portugueses no Festival International de la Bande Dessinée D’angoulême, onde Relvas participa com uma prancha realizada de propósito para esta exposição: Malubambu.
No jornal GrandAmadora – série de cartoons Chez Marreco.
Set./Out. – Exposição individual nos Recreios da Amadora, Relvas: Banda Desenhada.

1999
Por ocasião dos 25 anos da revolução de 1974, participou com uma curta história, Pai, pisa?, na exposição Uma Revolução Desenhada: o 25 de Abril e a BD, organizada pela Bedeteca de Lisboa, pelo Centro de Documentação 25 de Abril da Universidade de Coimbra e pelo Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra.
Publicação de O Rei dos Búzios em CD-rom, editado por Boa Memória – Produções Multimédia, que acompanhou a revista Biblioteca de Setembro de 1999, publicada pela Câmara Municipal de Lisboa. Este CD-ROM inclui uma entrevista ao autor, antigos trabalhos e textos de alguns especialistas, comemorando desta forma 25 anos de carreira do autor.
Conclui, no final do ano, Iva Jau e o Dr. Manga, destinada a ser publicada numa revista portuguesa de banda desenhada. Deveria ter sido publicada em capítulos, à medida que fossem sendo executados, de tal modo que, no início de 2000, deveria ter sido o fim da publicação da história. Contudo a sua publicação foi sendo adiada (provavelmente, diz o autor, devido às cenas eróticas), até que a revista deixou mesmo de se editar em 2002.

2000
Fev. – Incluido na Exposição Colectiva, na Fundação Calouste Gulbenkian – Centro de Arte Moderna: Banda Desenhada Portuguesa Anos 40 – Anos 80 (A Grande Aventura) – Comissariada por João Paiva Boleo e Carlos Bandeiras Pinhero.
Mai. – Incluido na Exposição Colectiva Portugal e a BD: Das Conferências do Casino à Filosofia de Ponta: Panorama Histórico da Banda Desenhada Portuguesa, organizada pela Bedeteca de Lisboa e comissariada por João Paiva Boléo e Carlos Bandeiras Pinheiro, no Centre Belge de la Bande Dessinée, em Bruxelas.
Set. – Na revista Selecções BD, nº23 (2ª série). História “muda” de seis pranchas, tendo como introdução o texto “O Regresso de Fernando Relvas”, de João Miguel Lameiras. Esta história foi realizada para o monumental volume de 2000 páginas de BD, o Comix 2000, que foi a forma encontrada pela editora francesa L'Association de comemorar o seu 10.° aniversário e o novo milénio. Trata-se de um álbum de histórias mudas (a ausência de texto é justificada por razões comerciais, pois deste modo o Comix 2000 é facilmente compreensível em qualquer parte do mundo), feitas por 324 autores de 29 países diferentes, entre os quais os portugueses Filipe Abranches e Mimi, que funciona como um testemunho do século que finda. Relvas foi um dos 12 mil autores de BD contactados e, embora tenha aceite o desafio, a história publicada nas Selecções BD não chegou a ser incluída nessa publicação por ter sido enviada fora do prazo.

2001
Jul./Ago. – No Phylactère, newsletter da Livraria Dr.Kartoon, de Fanny Denayer, republica uma selecção de cartoons anteriormente publicados no GrandAmadora, com o título O Regresso do Marreco, e escreve também alguns textos sobre outros autores de banda desenhada.
Mar/Abr – Exposição individual, Relvas – Desenhos, na Galeria Municipal Artur Bual, Amadora.

2002
Casa-se com a artista plástica Nina Govedarica e partem, em Dezembro de 2003, para Espanha (Málaga), de onde seguem para a Croácia.

2003
Jan. – Na revista Comix nº 5 (e último), da Devir – Jaca, versão restaurada de Concerto para Oito Infantes e Um Bastardo e dividida em duas partes, a segunda parte não chegou a ser publicada devido ao encerramento da revista.

2005
Exposição em conjunto com Nina Govedarica no Samoborski Muzej, Samobor, Croácia, em que participa, entre outras obras, com os originais de Iva Jau e o Dr. Manga.
Exposição colectiva no Espaço Delfim Guimarães, Amadora, em que participa com os originais de Iva Jau e o Dr. Manga.

2006
Depois de ter experimentado publicar várias coisas na internet, criando diversos blogues, como o Peixe Cru que eram, nas palavras do autor uma espécie de blocos de apontamentos e de treino para a escrita. Mas desagradado com os adiamentos de publicação por parte de um jornal português, resolve criar o blogue The Hard Line Approach (http://hardline-approach.blogspot.com), que actualmente não existe, onde publica o material destinado ao referido jornal e outras coisas avulsas.

2007
Em 2006, Relvas fez algumas alterações à história Iva Jau e o Dr. Manga remontou-a, passou o texto para inglês e publicou-a no sistema print-on-demand, no site www.lulu.com com o título Palmyra, onde ainda se encontra à venda.
Publica em print-on-demand em lulu.com o livro Ink Flow. Diz o autor: “Todas as histórias deste livro têm poucas palavras e muita tinta, e foram feitas sem qualquer esboço de preparação ou planeamento. A melhor maneira de olhar para eles é manter as palavras como batida de fundo e seguir o fluxo da tinta. Estes contos fazem parte de uma série de pequenos cadernos cosidos à mão (16,25 cm x 12,5 cm), feitos entre 2001 e 2003. Todos eles pertencem agora a colecionadores particulares. Como o suporte publicado na Lulu é diferente, as histórias foram ligeiramente alteradas. O texto em inglês está, em muitas partes, diferente do original português e a sequência dos desenhos não corresponde exatamente ao conteúdo dos cadernos”.
Publica no sistema print-on-demand, no site www.lulu.com, a sua primeira e até agora única novela, O Urso Vai a Espanha. Diz o autor no seu blogue: “Acabado de escrever em 2005, é a minha primeira experiência no campo da novela. Fui por terreno conhecido, e inspirei-me no ambiente de uma banda desenhada feita cinco anos antes. Quem leu “Palmyra” há-de pelo menos reconhecer dois personagens, os funcionários que perseguem o Urso, frescos e a saltar, dessa vez atrás de Jau. A história tem os mesmos elementos de movimento e rapidez duma banda desenhada. As personagens, para além dos portugueses uma chinesa, um angolano, um croata e um russo, são apenas esboçadas. No centro da história, um simples mas estranho mistério envolvendo um frete marítimo. É para ser lida entre dois pontos de uma viagem. A história, que originalmente se chamava “Trottoir”, foi imaginada ainda em Lisboa mas escrita já depois duma estadia por terras de Andalusia. Daí que “O Urso vai a Espanha” seja uma mistura de argumento de banda desenhada com crónica de viagem”.
Jun./Ago. – Publica a revista Costa, de que sairam apenas dois números, com a história The Green Fish, em três capítulos: The Hanging Man, Gospodin Sofer e Skarpina, que foram publicados em print-on-demand no lulu.com, onde estão à venda, e que depois tiveram lugar num blog de curta duração com o mesmo nome da revista.

2008
Cria outro blogue Chinese Master Spy (http://chinesemasterspy.blogspot.com), que também já não existe, onde inicia como webcomics semanais, as histórias The Chinese Master Spy, The Persian Ambassador e as tiras de Kriks, The Perfect Worker, estas em parceria com Nina Govedarica.
Out. – É incluido na Exposição colectiva Tecnologia e Ficção Científica na BD Portuguesa, no XIX Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora.

2010
Publica em print-on-demand em lulu.com as histórias The Chinese Master Spy e The Persian Ambassador, reunidas no livro Li Moonface, que também pode ser lido (em inglês) no yudu.com.
O projecto de curta-metragem animada Fado na Noite, de autoria e realização de Fernando Relvas é seleccionado para o apoio à produção no concurso de curtas-metragens de animação de 2010 do ICA (Instituto do Cinema e do Audiovisual).
19 Set. Regressa a Lisboa.
20 Set. – Inicia a publicação da webcomic The World of Miss Li, suspenso em Dezembro de 2010, uma vez que o autor decidiu que vai modificar a história e remontá-la.
A evolução do seu trabalho pode ser acompanhada em http://urso-relvas.blogspot.com, para onde o autor transportou grande parte do material publicado nos blogues acima referenciados.

Para a elaboração deste esboço bio-bibliografico de Fernando Relvas, contribuiram, obviamente as informações do autor, mas também informações de Leonardo De Sá e de Geraldes Lino.
In BDjornal #27, Maio de 2011

(1)
Certamente ainda incompleta, pois o autor encontrou material adicional, esquecido nas gavetas da memória, ao organizar os trabalhos para a presente exposição, para além de material realizado desde que este texto foi escrito. O autor suspeita que não é esta, ainda assim, uma bio-bibliografia exaustiva.

A saber:

1997
O Ananás que Ri, anteriormente aparecido em forma de fanzine, começa a ser publicado no suplemento de verão do Diário de Notícias mas, ao fim de pouco tempo, é interrompido por decisão editorial. Diz o autor que “estando um pouco farto de ver trabalhos meus interrompidos por decisão editorial, nomeadamente O Rei dos Búzios e O Nosso Primo em Bruxelas, exigi que o jornal publicasse uma justificação ao leitor, em que assumia a responsabilidade da interrupção, coisa que foi recusada, não só pessoalmente, como, depois de iniciado o processo judicial, durante a tentativa de conciliação. No final deste processo foi o DN condenado pelo Tribunal ao pagamento de uma indemnização ao autor, em 2001.”

2011
Io & Hu Q, A Medusa, livro infantil iniciado em 2009, em colaboração com Nina Govedarica, é posto à venda em lulu.com.
The Duoh Report, adaptado dum outro extinto blogue The World Seen from a Head, correntemente em execução.