Tuesday, January 21, 2014

Nau Negra, primeiro capítulo

Eis as primeiras doze páginas. É tudo a que terão direito até a história estar acabada, o que está previsto ser antes do final do ano, caso tudo corra bem na recolha de apoios, pois o que se conseguiu só dá para começar. O autor também aceita críticas, sobretudo para ter oportunidade de as rebater. Uma delas diz respeito ao tipo de letra utilizado, que não é do agrado de algumas pessoas, mas lá iremos em futuros posts.

NAU NEGRA

Nos finais de 1608, a equipagem de dois Navios do Selo Vermelho japoneses, atracados no porto de Macau, envolveram-se numa rixa com portugueses. O Capitão-mor e dono da viagem anual ao Japão – feita pela grande nau conhecida como Kurofune ou Navio Negro – interveio e castigou duramente as tripulações japonesas.
O Daimio dono dos navios queixou-se ao Xogun e exigiu o apresamento do Navio Negro, quando este chegou a Nagasaki, no ano seguinte.
O Capitão-mor recusou-se a ser julgado pelo Xogun e barricou-se na nau. Aos primeiros dias de 1610 os homens do Daimio deram o assalto. A falta de vento e o facto da nau ter encalhado quando era empurrada pela corrente, transformou-a numa fortaleza sitiada. Foram três dias e três noites de luta furiosa, que culminaram com a explosão do paiol de pólvora e o afundamento da nau, com toda a sua valiosa carga, a maioria da tripulação e alguns dos atacantes.

A ameaça dos navios holandeses e ingleses acabaria por levar ao abandono gradual deste tipo de grande nau em favor de galeotas, mais baratas, mais pequenas e mais manobráveis. Uma década depois da explosão daquela nau, o último desses navios faria a viagem entre Nagasaki e Macau. Foi esta viagem tão triste e angustiada quanto aquela tinha sido dramática e heróica. Durante todo o mês de Janeiro e parte do de Fevereiro de 1618, a grande nau da prata e da seda andou às voltas à vista das terras do Daimio de Omura, sob a ameaça permanente dum invisível navio corsário holandês.

O destino destes dois navios negros, grandes, bojudos e obsoletos, extravagantes como uma enorme baleia espetada de bandeirilhas, está não só ligado pela rota entre Macau e Nagasaki, pelo comércio da seda e da prata, pelos encontros e desencontros de culturas diferentes, pela sombra dos corsários e dos tufões, como também pelas cicatrizes do corpo e da memória do Barqueiro.





1 comment:

Geraldes Lino said...

Por esta curta amostra, não hesito em classificar "Nau Negra" como obra notável.

Aliás, também o teu texto de apresentação tem elevada craveira.

Fico ansiosamente à espera da finalização da obra e respectiva edição.

Grande abraço,
GL