Talvez, um dia, outra espécie de bicho mais eficaz do que a nossa, venha dizer que usamos a memória apenas para cumprir funções essenciais ao nosso estreito entendimento do Universo.
Como eles, eu penso que há um espaço muito mais vasto e profundo para a memória. Pela memória posso visitar a minha infância, o chouriço a pingar ao canto da cozinha
o meu primeiro bacalhau de escabeche, a minha coleção de primeiras namoradas
o meu terceiro primo da minha infância, grande e embirrante, em tudo diferente do segundo e do primeiro, o meu primeiro professor de matemática, o meu primeiro dentista e os figurões da adolescência
até consigo meter na minha coleção os figurões do futuro! Porque até há quem afirme que o que vem a seguir, vem primeiro e que o futuro condiciona o passado. É a isto que verdadeiramente se chama matar o tempo.
Mas afinal o que é a memória? Alguém disse que a memória é um lugar estranho para se estar, alguém disse que é um despejo, difícil de vasculhar, não sei se alguém disse que a memória é uma perda de tempo e de espaço virtual, mas se o disse, disse-o mal. Afinal, a memória é um bom sítio para se viajar.
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