A família Voraz há muitas gerações que é dada à curiosidade e à culinária. Um antepassado meu, chef de governadores e vice-reis, foi mesmo o primeiro português a pisar terras do Japáo.
Desembarcou, levando consigo um ukulele e um bacalhau, que entregou a um japonês.
O japonês, que se chamava Heizo, disse "Arigato" e presenteou-o com um telemóvel.
Pensando – erradamente – que "arigato" era derivado de "obrigado", e que portanto não seria o primeiro português no Japão, Voraz retirou-se amuado para a Índia, abdicando daquela glória.
De regresso a Goa, Voraz convidou um colega indiano, chamado Sanjay, para almoçar, e mostrou-lhe a prenda que trouxera do Japão.
"É um telemóvel", disse Sanjay. "E como uso eu isto?" perguntou Voraz. Sanjay disse-lhe que tinha que o desbloquear, "Posso tratar disso, mas em troca ensinas-me o segredo deste magnífico prato que estamos a comer."
Apanhado de surpresa com um bocado de carne entre os dentes, já atacados pelos doces, pelo beri-beri e pelo escorbuto, Voraz retorquiu "Osto? É corne de porku êm vin'd'alho."
"Ah, vindaliu", exclamou Sanjay. "Vin'd'alho! Vin'd'alho!" soprou, desesperado, Voraz por entre fibras rebeldes de carne. Mas, como mandava a cortesia, aceitou a troca.
Nas mãos hábeis de Sanjay a carne em vinha d'alhos teve um enorme sucesso, e um dos seus netos vendeu a receita a um grupo de hooligans ingleses de visita, tendo asssim a família de Sanjay enriquecido à conta dela.
Os ingleses chamaram-lhe vindaloo, adotaram-no como prato oficial para acompanhar rios de cerveja e até o transformaram em hino de futebol.
Quanto ao chef Voraz viveu regaladamente o resto dos seus dias. Mas, até ao último suspiro, não parou de se queixar que tinha sido arruinado pelo mau negócio que fizera. E, como é habitual nestes casos, quanto mais dinheiro ganhava, mais ele se queixava.
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